quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Fogo e Sucessão Ecológica

Como foi visto em postagens anteriores, certas catástrofes ocorrentes no ambiente não são proporcionadas somente pelos fatores abióticos, as ações antrópicas podem (e muito) interferir no decorrer da vida de um ecossistema, como os desmatamentos e as queimadas. Na questão das queimadas, contudo, pudemos ver que podem acontecer de modo natural, através de processos inerentes ao sistema, como exemplo o clímax catastrófico (ou cíclico). Este text tem como objetivo tentar explicar o porquê disto e como o fogo está relacionado à sucessão ecológica.

Benefícios

Anualmente são observados incêndios em certos pontos do Cerrado brasileiro, bioma que é responsável por 5% da biodiversidade total do planeta. Agricultores e moradores da região, espantados, procuram por ajuda, comunicando bombeiros e/ou tentando por conta própria extinguir o fogo. Contudo eles não sabem que determinados incêndios são provocados naturalmente. Sim, o fogo é um fator inerente à evolução e sucessão biológica do bioma. Certas sementes necessitam do impacto térmico para o despertar da "dormência", resultando no descascar e/ou provocamento de fissuras na casca protetora, facilitando a entrada de água e, em seguida, a germinação. O incêndio também facilita a varredura do solo, a limpeza das "impurezas" caídas sobre a terra, reduzindo os materiais orgânicos à cinzas, que, com a chuva, há a solubilização dos elementos químicos e a deposição de nutrientes sob o solo, que mais tarde serão úteis às plantas que surgirão. Algumas árvores estão adaptadas à este fato: elas apresentam uma cortiça, uma camada protetora que serve como isolante térmico, além de impedir o alastramento do fogo sobre o seu tronco. Geralmente os fogos naturais são de baixo nível, não se alastrando para demais locais, sendo extinguido por conta própria após um tempo. Contrariamente ao que se pensa, o fogo causado naturalmente não mata a grande maioria das plantas no Cerrado. A fauna se adapta ao fato, de mesmo modo; os animais voadores fogem, alguns invertebrados se escondem no solo e os vertebrados podem correr e se refugiar em tocas ou buracos e, caso o animal esteja mesmo que poucos centímetros abaixo do solo e mesmo que o fogo passe perto, já é o suficiente para não sentir uma alta temperatura ou se queimar. Os animais que tenham sido desprovidos de sorte ou de esperteza suficiente para elucidar a noção de perigo e de morte, são assados, porém isto não é um total problema, porque podem servir de alimento a outros animais. Algumas espécies como o anu, carcará e seriema são inteligentes e percebem o fogo, fugindo, depois voltando para se alimentar de insetos e répteis mortos pelo fogo.

Fogo  no Cerrado. Retirado de Blog do Planalto.
Disponível em http://blog.planalto.gov.br/um-plano-para-proteger-o-cerrado-brasileiro/.
Como acontece?

O fogo natural não é totalmente maléfico, oferece benefícios, é moderado e tudo o mais... Mas como acontece?
Acontece como tudo o que foi visto até agora: com as técnicas da natureza, com a adaptação dos seres e com uma ajudinha dos fatores abióticos.
Em uma parte do ciclo de vida de específicas plantas do Cerrado, suas folhas ficam ressecadas naturalmente e caem, formando um amontoado de matéria fina e seca e altamente inflamável. Daí o início do incêndio pode ser provocado pela forte incidência de raios solares, por combustão espontânea, pelo atrito entre rochas ou por incidentes (intencionais) ou acidentes (não propositais) humanos, como fogueiras, queimas de restos agrícolas ou qualquer faísca fatal. Os naturais geralmente ocorrem em setembro quando as folhas estão no auge do dessecamento e marca o início da estação chuvosa (pois raios também são suficientes para incendiar o lugar). Já as queimadas antropogênicas  (causadas pelo Homem) geralmente são acidentais e ocorrem entre os meses de julho e agosto, quando os agricultores de regiões próximos queimam os restos da colheita, despropositalmente ocorrendo o escape do fogo; ou quando pecuaristas queimas intencionalmente o pasto para limpar o terreno e promover o desenvolvimento de folhas novas para o gado.

Estudo da UFU

Segundo o estudo de 2009 "Mudanças Fitofisionômicas no Cerrado: 18 anos de Sucessão Ecológica na Estação Ecológica do Panga" da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), estudo tal que analisou a composição biológica de uma área específica do Cerrado durante 18 anos indica que áreas com "diminuição da incidência do fogo e de outras perturbações antrópicas no interior da mesma resultou em uma quase completa transformação das áreas de campo sujo em cerrado ralo ou em cerrado típico". E que também houve um aumento da densidade arbórea e de formações savânicas abertas após a notificação de que os incêndios ocorriam com menor frequência. Com isso percebe-se que com a diminuição dos eventos naturais de fogo houve o crescimento vegetal em uma área somente, não acontecendo a expansão e ampliação da área total ocupada pelos vegetais. Uma explicações para a menor frequência das queimadas é a implantação da reserva ecológica próximo a área estudada; viu-se que antes notificava-se numa base semi-anual e depois da construção da reserva houve, em média, um incêndio a cada dez anos. 
O estudo completo está disponível no site Revista Caminhos da Geografia em: http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/15980/9012.

Mapa representando o Cerrado. Retirado de Só Biologia.
Disponível em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia24.php

Malefícios do fogo antropogênico

As queimadas em demasia provocadas pelo Homem pode resultar em grande impacto no meio ambiente, afetando o sistema, ocasionando a degradação do ambiente, a erosão, o esgotamento de terras e a perda da biodiversidade. 
Certas tribos indígenas queimam para limpar o terreno, realizar o plantio de suas hortas, para atrair e caçar animais que vem se alimentar da rebrota do estrato herbáceo, se livrar de pestes como cobras e insetos, além de realizar rituais religiosos. O conhecimento indígenas foi repassado de geração em geração e hoje também é conhecido por agricultores e pecuaristas. A ciência indígena sabia que a queimada em excesso podia afetar espécies arbóreas, mas que com controle, poderia até favorecer as plantas, implicando a frutificação das mesmas.
Um artigo interessante que discute sobre este tema é o de Vânia R. Pivello, professora do Departamento ed Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. O artigo está disponível em: http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia25.php.


Já aproveite e responda a enquete sobre a importância da Ecologia ao lado (painel direito)

Fonte:

BIOLOGIA - AULA 46 - SUCESSÃO ECOLÓGICA. Youtube. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=GByaQYyHVLc

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